quarta-feira, 16 de abril de 2008

Hepatite B



A hepatite B é uma doença infecciosa causada pelo vírus HBV (vírus da Hepatite B), descoberto em 1965. Este vírus pertence à família Hepadnaviriae e o seu nome específico é Orthohepadnavirus Hepatite B virus.
Este vírus infecta sobretudo células hepáticas, provocando inflamação no fígado. O vírus penetra no núcleo das células do fígado e multiplica-se em grande número utilizando o DNA da célula infectada para formar o seu próprio RNA mesangeiro. Posteriormente, com o auxílio da enzima transcriptase reversa, este vírus produz o seu próprio DNA, utilizando o RNA sintetizado anteriormente.
A partícula viral da Hepatite B é denominada partícula de Dane, podendo esta assumir uma forma esférica ou filamentosa. Esta partícula inclui no seu interior várias proteínas, responsáveis pela doença. Entre elas encontram-se a proteína membranar HBs, a proteína HBc (que protege o genoma do vírus) e a proteína HBe, que é menos importante, mas que também é lançada para a corrente sanguínea, logo exige resposta por parte do sistema imunitário.


Transmissão e Epidemiologia
O vírus da Hepatite B tem uma transmissão relativamente semelhante à transmissão do vírus da SIDA. O vírus existe no sangue, no sémen e secreções vaginais, na saliva que tenha estado em contacto com sangue infectado e no leite materno de doentes e de portadores assintomáticos (que não manifestam sintomas da doença). Desta forma, a doença transmite-se por via sexual, da mãe para o filho, através de agulhas infectadas devido ao contacto de sangue. Os casos mais frequentes de transmissão com agulhas infectadas ocorrem devido ao consumo intravenoso de drogas e à utilização dessas mesmas agulhas para realizar tatuagens, piercings ou tratamentos de acupunctura em estabelecimentos não legalizados, e na maioria das vezes, não cumpridores dos princípios de higiene e esterilização dos objectos utilizados.
Apesar de o modo de transmissão ser semelhante ao do vírus da SIDA, o vírus da Hepatite B é muito mais resistente, sobrevivendo em condições ambientais bastante adversas. É, por isso, cerca de 100 vezes mais contagioso que o vírus da SIDA.

Sintomatologia

A hepatite B pode assumir duas formas: hepatite B aguda ou hepatite B crónica.
A hepatite B aguda assume um período de incubação de 4 a 20 semanas. A infecção pode causar icterícia (cor amarelada da pele e dos olhos), febre, falta de apetite, mal estar, urina de cor escura, fezes de cor clara, naúseas, comichão e dor abdominal. Ocasionalmente, pode causar dores nas articulações, dores de cabeça e lesões na pele semelhantes às da urticária. No entanto a grande maioria dos casos não apresentam sintomas.
Em 90% dos casos, a hepatite aguda B é uma doença auto-limitada, ou seja, evolui naturalmente para a cura devido à resposta eficiente do sistema imunitário. Após a cura da doença, o fígado recupera totalmente dos danos que sofreu e o doente torna-se imune devido à presença de anticorpos no sangue formados devido à presença do vírus.
Só cerca de 10% dos casos acabam por evoluir para doença crónica.
Já a hepatite B crónica é diagnosticada quando a doença se prolonga por mais de 6 meses. Os indivíduos que sofrem desta doença geralmente não apresentam quaisquer sintomas ou apresentam sintomas ligeiros como cansaço. A infecção pode evoluir para cirrose ou para carcinoma hepatocelular (cancro do fígado).
Esta evolução será acelerada se o indivíduo em causa estiver simultaneamente infectado com o vírus da Hepatite C.
A cirrose manifesta-se essencialmente pelo aparecimento de icterícia, hemorragia digestiva e ascite (acumulação de líquidos na cavidade abdominal), provocando insuficiência hepática. No entanto, em muitos casos, a cirrose pode permanecer silenciosa durante longos períodos de tempo.
Em situações mais extremas a cirrose pode evoluir para cancro do fígado, podendo mesmo levar à morte, principalmente quando associada ao consumo de álcool.

Diagnóstico
No diagnóstico da doença são utilizadas técnicas que permitem detectar a existência ou não de antigénios e de anticorpos que surgem nos diferentes estados da doença. Geralmente é feito também uma análise rigorosa ao fígado. Deste modo é possível identificar se se trata de uma infecção aguda ou crónica ou se, pelo contrário, o individuo se encontra imune.
Se o doente sofrer de hepatite B aguda, o teste revelará a existência de antigénios HBs e HBe e anticorpos HBc, bem como transaminases (enzimas que se localizam no interior das células hepáticas e se só são libertadas quando essas células são destruídas).
Se o doente sofrer de hepatite B crónica, o teste revelará a existência de antigénios HBe e HBs em quantidades muito altas e anti-corpos HBc, bem como elevado número de transaminases.
É de realçar que uma vez infectado pela Hepatite B, nenhum indivíduo voltará a ter a doença pois ficará imunizado.

Tratamento

Não existe nenhum tratamento totalmente eficaz para a hepatite B. A melhor medida de prevenção é a vacinação. A vacina contra a hepatite B possui antigénios HBs. Desta forma, o organismo produzirá anti-corpos anti-HBs, tornando o indivíduo imune à doença. Esta vacina é eficaz em 95% dos casos.
Actualmente, a vacina contra a Hepatite B faz parte do Programa Nacional de Vacinação e são geralmente administradas três doses: uma primeira dose logo após o nascimento, uma segunda aos 2 meses e uma terceira dose aos 6 meses de idade. Sendo que a referida vacina faz parte do PNV, é totalmente gratuita e obrigatória para todas as crianças.
Além das crianças, a vacina é recomendada a todos aqueles que não foram vacinados na infância, especialmente profissionais de saúde, hemofílicos e hemodializados.
Em caso de infecção crónica, devido às limitações existentes da terapêutica, o tratamento baseia-se na administração de medicamento antivíricos (geralmente compostos por interferão-alfa) que impedem a replicação do vírus e reforçam o sistema imunitário. No entanto, nenhum medicamento é, actualmente, capaz de eliminar o vírus do organismo.
Existe, no entanto, anticorpos humanos anti-VHB sintéticos que podem ser administrados, principalmente a recém-nascido, filhos de mães portadoras (é obrigatório o despiste da infecção a todas as grávidas) e que podem actuar sobre o vírus, apresentando uma eficácia de 95%. No entanto, este método só funciona nos dias seguintes à contaminação pelo que é apenas utilizado em recém-nascidos dado que a contaminação por outras vias não é reconhecível em tão curto espaço de tempo.
Além disso, é recomendado (para não agravar a doença) a realização de uma alimentação equilibrada, rica em proteínas e vitaminas e pobre em gorduras e açúcares. É totalmente proibido o consumo de álcool, podendo este ser fatal dado que o fígado não tem condições para o assimilar.

O vírus da hepatite D (HDV)

O vírus HDV é um vírus incompleto, deficiente em quase todas as proteínas, codificando apenas duas, pois o seu RNA funciona como enzima que cliva todos os produtos transcritos.
Desta forma só consegue multiplicar-se ao parasitar um outro vírus, o vírus da hepatite B. Não actua isoladamente, mas agrava significativamente o diagnóstico dos doentes infectados com hepatite B.

Prevenção
Para prevenir o contágio por Hepatite B é essencial a utilização de preservativo em todas as relações sexuais, não partilhar seringas ou objectos pessoais e de higiene (ex: escovas de dentes, lâminas de barbear, etc), usar luvas em caso de desinfecção de uma ferida com sangue. Além disso é essencial manter uma higiene cuidada e evitar contactos com sangue e fluidos orgânicos.

Estatísticas
Calcula-se que 5% da população mundial esteja infectada com VHB, existindo cerca de 350 milhões de portadores crónicos e 50 milhões de novos casos por ano.
Estima-se que, em Portugal, existam cerca de 140 mil portadores do vírus da Hepatite B. Apesar do elevado número, nos últimos anos, tem vindo a ser notório uma diminuição dos novos casos por ano.
No entanto, em comparação com o resto do Mundo, a Europa apresenta uma taxa relativamente baixa de infectados (0,1 a 1% da população), tal como a América do Norte.
A situação mais extrema verifica-se em África, onde esta infecção atinge 12% da população. Segue-se a Ásia com cerca de 9% de população infectada. Nestes dois continentes, a transmissão verifica-se, essencialmente, de mãe para filho(a) ou durante a infância.